Motorista do Uber cobra duas vezes mais por corrida entre Ipanema e Tijuca

Apesar de reclamar pela internet, passageira ainda não foi atendida

Por um lado, taxistas regulamentados no Rio de Janeiro são rigorosamente fiscalizados e punidos por qualquer arranhão na lataria. Por outro, carros particulares cobram corridas a preços abusivos com o auxílio de aplicativos como o Uber. Sobra para o passageiro. Camila Lua Zarur pagou R$ 79,00 por corrida que custaria R$ 36,00 se fosse feita em um  táxi comum carioca.

Pelo facebook, Camila informou  que, após reclamar na fanpage da empresa, o Uber fez contato, mas não resolveu a sua reclamação. Ela havia feito um trajeto de Ipanema para Tijuca e custou R$ 79,00.

No táxi, na Bandeira 1 ficaria em R$ 36. Na Bandeira 2, R$ 42. O táxi especial custa R$ 58,00.

“No Uber funciona assim: você recebe o valor da corrida e todos os outros detalhes por email (trajeto percorrido, tempo, etc.). O valor que, teoricamente, eu teria que pagar é de R$ 39,71. Mas apareceu no email um tal de "preço dinâmico x2", que multiplicou o valor”, revela a passageira Camila.

Promoções

Em sua página no Face book, o Uber faz promoções para crianças, divulga códigos secretos para chamadas e exibe fotos de motoristas com posturas ‘profissionais’. Na guia destinada à definição do negócio, o aplicativo informa: “...(sou) o seu motorista particular em mais de 200 cidades no mundo. Conectamos de forma segura usuários com carros executivos, basta baixar o aplicativo!”. Também informa que o pagamento das corridas é feito online, de forma segura, via cartão de crédito.

Não existe ‘“carona” no Uber. Os passageiros são levados a se cadastrarem e incluírem o número do cartão de crédito, entre outras informações. São atendidos em carros pretos, semelhantes aos veículos especiais. O aplicativo firma um contrato com usuários e motoristas. Adota o slogan ‘“Uber, seu motorista particular”.

Oficialização do Uber

A página conta com mais de 730 mil curtidas no Brasil. Tanta aceitação por parte dos passageiros dá a possibilidade do Uber figurar em catálogos oficiais comemorativos pelo aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro. Em uma das mensagens postas na página do aplicativo, um empresário se diz sócio do Boni e do Ricardo Amaral e pede contato para lançar um catálogo de luxo chamado Rio Book Guide, em conjunto com Prefeitura do Rio de Janeiro. Veja abaixo o diálogo:

“Uber, Boa noite! Eu trabalho com Boni e Ricardo Amaral, no Rio de Janeiro. Estamos lançando um catálogo de luxo chamado Rio Book Guide em conjunto com a prefeitura do Rio e o evento Rio 450 anos! Estamos construindo um portal de grande tráfego com todas essas informações. Dentre elas, hotéis, gastronomia, eventos no Rio de Janeiro, e gostaria de saber como faço para enviar uma proposta de divulgação da marca em nosso portal! Obrigado”.

A empresa do aplicativo promoveu a coleta de brinquedos para presentear crianças portadoras de câncer atendidas pela Casa Hope, em São Paulo. Os interessados doavam os brinquedos para os motoristas, diretamente nos carros. Não foi divulgado um endereço físico para entrega. O doador deveria chamar um carro pelo aplicativo e dar a doação diretamente para o motorista.

A página também tem um setor de reclamações. Camila é uma das que reclamam da cobrança. Mas não é a única. Outra passageira reclama da falta de canal para queixas. Outra passageira questiona a ausência de divulgação de um endereço fixo para reclamações.

Quem se sente lesado pelo Uber não conta com um canal oficial de reclamações. As questões são resolvidas pela empresa, sem qualquer intermediação do Poder Público.

Pressões

Enquanto setores da sociedade ignoram a ilegalidade do transporte irregular, em outras partes do mundo a história é outra. Em setembro, o aplicativo foi proibido em Frankfurt, Alemanha. O motivo foi a falta de licença pública dos motoristas oferecidos pelo serviço. Em São Paulo, A Secretaria Municipal de Transportes (SMT) apreendeu, em agosto, três veículos de motoristas que usavam o aplicativo Uber para realizar transporte de passageiros. O órgão justificou a apreensão sob o argumento de que o serviço de transporte de passageiros é exclusivo de taxistas autorizados pela Prefeitura.

No Rio de Janeiro, taxistas começam a se mobilizar contra o aplicativo. O taxista Marcos Bezerra, presidente da Rodo Táxi e do Conselho de Taxistas junto à Prefeitura, cita a Súmula 318 do relator Desembargador Edson Queiroz, que por unanimidade votou pela legalidade da apreensão de veículo utilizado em transporte irregular, previsto na Lei 3756 de 2002:

“As coisas já começam a melhorar. Acredito que podemos usar isso contra os veículos particulares parados em porta de hotel, Uber, e todas essas pragas que assolam nossa categoria”, exclamou o taxista.